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Por Eric Niiler
Terça, 3 de maio de 2011
O president Obama chamou esta manhã de “um bom dia para a América” em uma cerimônia na Casa Branca. É claro que o presidente se referia à morte de Osama bin Laden, o pai barbudo do terrorismo, que escapou das forças norte-americanas durante uma década até ser morto em um tiroteio em uma cidade suburbana, a menos de 100 quilômetros da capital do Paquistão.
Mas e quanto ao restante dos americanos? É mesmo um dia bom ou logo será esquecido em meio à labuta diária? E a morte de Bin Laden realmente importa na luta contra o terrorismo?
Os especialistas parecem divididos quanto à segunda questão. Alguns afirmam que a Al-Qaeda prosseguirá sem Bin Laden, mesmo concordando que ele era mais um símbolo do que um líder estratégico. Outros acreditam que o grupo continuará a conduzir operações contra seus alvos no Ocidente e no mundo muçulmano.
"Ele era o homem que fundou a organização e a liderou durante 20 anos”, argumenta Daniel Byman, especialista em terrorismo do Instituto Brookings, em Washington. "Isso certamente importa".
Byman afirma que Bin Laden era uma figura unificadora para a Al-Qaeda e reconciliou várias facções. O grupo manteve um plano de sucessão durante anos, e seu novo líder, o egípcio Ayman Zawahiri, “não têm a estatura e o carisma de Bin Laden”.
Ao longo dos últimos anos, a Al-Qaeda tornou-se mais descentralizada e passou a operar em células individuais em vários países, dificultando sua destruição completa, segundo Kenneth James Ryan, criminologista e especialista em terrorismo da Universidade do Estado da Califórnia, em Fresno.
"Podemos antecipar que as células continuarão em operação”, disse Ryan. Nos últimos anos, o governo norte-americano congelou os ativos financeiros da Al-Qaeda, um esforço que pode ser mais proveitoso do que matar Bin Laden.
"Executar ataques terroristas em lugares distantes do centro de operações financeiras do grupo é muito dispendioso”, explica Ryan. "Acredito que a Al-Qaeda deve ter tido muitos problemas nos últimos anos”.
Ambos os especialistas acreditam que o grupo tentará organizar ataques para vingar a morte de Bin Laden. Na segunda, autoridades de Washington e New York reforçaram a segurança, e o Departamento de Estado emitiu um alerta para os americanos que estão no exterior.
Apesar do futuro incerto, é evidente que, por enquanto, os americanos reagem com júbilo e alívio ao fato de que a justiça foi feita. Milhares de jovens aglomeraram-se diante da Casa Branca para celebrar a notícia anunciada no domingo à noite, agitando bandeiras e cantando “God Bless America”.
Para a viúva do 11 de setembro, Bonnie McEneaney, de New Canaan, Connecticut, a notícia da morte de Bin produz sentimentos contraditórios.
"Quando algo assim acontece, você volta no tempo”, disse McEneaney, que perdeu seu marido, Eamon, nos ataques ao World Trade Center.
"Não há sentimentos de justiça ou vingança”, afirmou McEneaney, autora do livro "Messages: Signs, Visits and Premonitions from Loved Ones Lost on 9/11” (Mensagens: Sinais, Visitas e Premonições das Pessoas Amadas que se foram no 11 de setembro, em tradução livre)
"Sinto-me grata pela habilidade do nosso governo e exército, mas também muito triste por isso teve que acontecer. Não existe uma ‘conclusão’ quando se perde uma pessoa querida”.
McEneaney disse que a notícia também abriu feridas emocionais que levaram um longo tempo para cicatrizar.
Outra viúva do 11 de setembro, Kristen Breitweiser, declarou à CNN que a morte de Bin Laden mudaria o mundo.
"Minha filha de 12 anos acordará amanhã para um mundo mais seguro, e quem sabe, mais pacífico. E isso me traz uma rara sensação de alívio”, afirmou em um comunicado.
“Os americanos ainda sentem o impacto psicológico e emocional do 11 de setembro”, garante Judith Richman, psiquiatra da Universidade de Chicago, “mas não tanto quanto antes”.
Richman estudou o estresse apresentado por americanos comuns em sua vida diária. Nos últimos dois anos, o terrorismo perdeu a importância em quase todos os grupos, exceto para os muçulmanos-americanos.
"A economia é muito mais importante para as pessoas agora do que o terrorismo”, explica Richman. "Para as pessoas que não têm emprego ou têm subempregos que mal cobrem as despesas, isso é quase um alívio, uma distração”.