
Crédito: Getty Images. Há alguns meses, o Facebook e o Twitter desempenharam um papel crucial na mobilização de manifestantes no Irã, Egito e Tunísia. Agora, o
Tumblr foi apropriado de forma singular pelo movimento de protesto
Ocupe Wall Street, que vem reunindo manifestantes em Nova York, Boston e Chicago para desafiar a influência do dinheiro das grandes corporações sobre o governo e criticar o crescimento da desigualdade social e econômica.
Híbrido de plataformas comuns de blogs, como Typepad e Wordpress, e do microblog Twitter, o Tumblr permite que os usuários postem fotos, vídeos, e mensagens, compartilhando-as com pessoas que não conhecem.
O site mostrou ser uma grande força de apoio aos protestos do Ocupe Wall Street, ampliando o número de participantes de apenas algumas dezenas de pessoas em setembro para milhares na semana passada, quando vários sindicatos locais se reuniram para marchar pela Broadway.
"Tecnologias como o Tumblr são ferramentas fantásticas, que inspiram e aglutinam muita gente”, declarou Gilad Lotan, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da SocialFlow, empresa que otimiza redes sociais utilizando dados em tempo real.
Na quarta passada, o Parque Zuccotti, a apenas três quadras de Wall Street, ficou lotado de manifestantes. Muitos deles criaram conteúdos e vídeos próprios para transmitir sua mensagem pela Web, seja no Tumblr,
Facebook, Twitter ou nos serviços colaborativos do
Google.
“Criamos um Google Docs para podermos nos comunicar”, explica Brian Philips, um dos organizadores, que atravessou o país pegando carona desde Seattle para participar das manifestações em Nova York. “E também criamos números do Google Voice para todos”.
Uma página do Tumblr, “
We Are The 99 Percent” (Somos os 99%), foi republicada em diversos blogs centenas, talvez milhares de vezes. Por meio de fotos pungentes, ela revela o drama das pessoas alijadas do topo da pirâmide de renda americana, em que cerca de 1% detém a maior parte da riqueza do país. Cada foto mostra uma pessoa segurando um cartaz ou uma folha de caderno nos quais escreveram seus problemas. Todas as mensagens, por volta de 50, falam de tempos difíceis.
Um homem escreveu “Sou um homem de 48 anos que trabalhou a vida toda em uma fábrica que não existe mais. Estou tentando obter uma graduação universitária. Minha média geral é 4,0 e tenho 40 mil dólares em dívidas. Não tenho tempo livre, mas aceitei um trabalho para orientar alunos. Passei o fim de semana no hospital com pneumonia. Não tenho seguro-saúde e não posso pagar a conta".
Uma mulher escreveu: “Sofro de depressão crônica. Também sou dependente de drogas em recuperação. Minha medicação custa 200 dólares por mês. Minha educação custa 10 mil dólares por ano. Tenho dois empregos, trabalho como voluntária em dois lugares e faço sexo por dinheiro nos fins de semana. Tenho 23 anos”
Outra escreve: “Tenho 31 anos e sou veterana da Força Aérea dos Estados Unidos. Estou desempregada há 16 meses. Meu marido está desempregado há seis meses. Perdemos nossa casa e moramos com nossa sogra. As pessoas me agradecem pelos serviços prestados. Por que não me agradecem com um emprego?”.
Duy Linh Tu, diretor de Mídia Digital da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Colúmbia, afirmou que o Tumblr “ocupou um nicho singular”. Enquanto o
Twitter permite apenas 140 caracteres e os blogs convencionais permitem apenas que o autor interaja, o Tumblr integrou ambos.
Lotan também observou que o ímpeto das manifestações do Ocupe Wall Street está crescendo – e que as conversas não estão acontecendo no Twitter. "Você atinge muito mais gente com conteúdos visuais, com blogs colaborativos que contam histórias baseadas em fotos, como o Tumblr. ‘Somos os 99%’ está fazendo um trabalho fantástico ao envolver um número cada vez maior de pessoas”.
Kalev Leetaru, professor-assistente de análise de textos e
mídias digitais da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, observou que muitas pessoas estão contando as mesmas histórias de dificuldades econômicas. Isso pode ajudar a transformar a narrativa popular, porque quem posta no site vê outras pessoas com as quais se identificam.
“As reportagens iniciais os descreviam apenas como jovens universitários e hippies sujos”, afirma Leetaru. Mas essa visão disseminada pela grande mídia (como o
New York Times) começou a desmoronar quando a página no Tumblr passou a ser “reblogada”.
O fato também se relaciona ao controle das mensagens, algo que as corporações fazem muito bem. “Movimentos populares têm historicamente sofrido muito com isso”, evoca Leetaru. A disseminação da mensagem tem sido fundamental para ampliar o apoio aos movimentos e conquistar mais manifestantes.
Além do Tumblr, o Twitter e o Facebook também oferecem potentes ferramentas de organização, ajudando a impulsionar manifestações em várias cidades dos Estados Unidos. Isso chamou a atenção da grande mídia, ampliando a consciência popular sobre os protestos, explica Leetaru.
Seu recente trabalho científico analisou a cobertura da mídia e previu manifestações de desobediência civil. Mas o pesquisador diz não ter certeza de que o número de participantes crescerá neste caso. Quando os protestos no Egito começaram a ganhar forma, não havia um número tão grande de tuítes pouco antes da queda do governo – só depois eles dispararam, assim como as inserções na Wikipedia.
No entanto, Leetaru acrescenta que o controle da mensagem, com o apoio das mídias sociais, ajudou a colocar a maré contra o
governo de Hosni Mubarak. Inicialmente, o ex-presidente egípcio recorreu à propaganda para retratar os manifestantes na Praça Tahrir como agentes de forças estrangeiras.
Linh Tu afirma que o uso de mídias sociais com Twitter ou Tumblr amplia a conscientização do público sobre movimentos de protesto mais rapidamente do que no passado, mas também pode acelerar sua queda. Quanto mais rápido surgem, mais rápido desaparecem. E como não há função de armazenamento de arquivos no Tumblr ou Twitter, um movimento que é popular esta semana corre o risco de se esvaziar na outra e ser esquecido. Contudo, se a primavera árabe serve como referência, o movimento nascido nos Estados Unidos parece estar só começando.
Fonte :http://blogs.discoverybrasil.uol.com.br/noticias/