terça-feira, 9 de agosto de 2011

Encontrado quarto do século XVIII com inspiração egípcia


Egito
O Quarto egípcio de Casalbuttano. Crédito: Rossella Lorenzi.
Por Rossella Lorenzi
Hieróglifos estranhos e representações de deusas e deuses egípcios foram encontrados no Vale do Pó, norte da Itália, revelando um exemplo único de Egiptomania.
Em Casalbuttano ed Uniti, uma vila a 16 km de Cremona, a decoração de inspiração egípcia foi encontrada e restaurada após a retirada da tapeçaria de um quarto do Palazzo Turina, uma construção do século XVIII que agora abriga a prefeitura da vila.
Surgiu um teto azul estrelado e, nas paredes pintadas de rosa e creme, faixas coloridas revelaram uma riqueza em hieróglifos.
Pintados com estonteantes efeitos em trompe-l’oeil para criar a ilusão de estátuas reais, desenhos de deusas e deuses egípcios surgiram nos cantos do cômodo.
“Foi uma descoberta incrível. A cola animal usada para a instalação da tapeçaria acabou conservando os afrescos, que só precisavam de uma limpeza básica”, conta Virginia Bocciola, uma das arquitetas que comandaram a restauração.
Apesar de arqueólogos terem encontrado o quarto em 2006, ele ficou relativamente desconhecido até pouco tempo, quando Annamaria Ravagnan, responsável pelo corpo de museus da região da Lombardia, pediu que especialistas estudassem a decoração incomum do ambiente.
“Na Lombardia, temos várias vilas com quartos decorados com estilo egípcio, mas nenhum como o de Casalbuttano”, disse Annamaria ao Discovery News.
Jean-Marcel Humbert, Curador Geral do Patrimônio e Inspetor Geral dos museus da França (Ministério da Cultura) concorda.
“Há muitos cômodos desse tipo na Itália e no mundo todo. Todos são diferentes desse pelo período, pelo estilo, pelo tamanho. O quarto de Casalbuttano é único”, disse ele.
Humbert, que é especialista em Egiptologia e um dos maiores experts em Egiptomania – a fascinação por coisas egípcias –, vai publicar um estudo detalhado sobre o quarto no início de 2012.
“É muito interessante devido ao uso de hieróglifos e das adaptações que foram feitas”, disse.
De fato, o pintor que fez as imagens egípcias produziu cenas bizarras e até difíceis de interpretar.
Apesar de os hieróglifos serem reais, a maneira como estão ordenados formam um texto incompreensível, enquanto as divindades misturam detalhes claramente egípcios com outros completamente obscuros.
“O estudo é complicado, mais do que em outros cômodos encontrados, porque não está sendo fácil encontrar os modelos de referência”, ressalta Humbert.
Algumas das divindades, identificadas como Sekhmet, Taweret, Hathor e Horus, possuem detalhes que não têm qualquer relação com seu papel na História do Egito.
Por exemplo, Sekhmet, a deusa da cura com cabeça de leão, está sentada no que parece ser uma cadeira etrusca com inscrições sem sentido.
Taweret, a deusa do nascimento e da fertilidade, é normalmente representada com uma cabeça de hipopótamo, patas de leão e cauda de crocodilo, mas, nesta representação, possui uma cauda de vaca.
Pouco se sabe sobre o artista que fez o quarto.
“Sabemos que a rica família Turina deixou a decoração do palácio a cargo de um dos melhores artistas da época, como Gioacchino Serangeli e Giovanni Motta”, disse Maurizio Telli, conselheiro da cultura de Casalbuttano.
O quarto deve ter sido feito após a campanha militar de Napoleão, que ocorreu entre 1798 e 1801, quando os Turinas, assim como muitos outros europeus, ficaram fascinados pelo Egito.
A expedição fracassada gerou uma publicação de vários volumes chamada Description de l’Égypte (Descrição do Egito), um trabalho colaborativo feito por cerca de 160 acadêmicos e cientistas, conhecidos como sábios, e por 2 mil artistas e 400 entalhadores que acompanharam os soldados de Napoleão.
Primeiramente publicada em 1809 e sequenciada até a publicação do último volume em 1829, a obra Description de l’Égypte é a base da Egiptologia moderna.
Apesar de o Egito Antigo gerar fascinação muito antes da campanha de Napoleão, a publicação única, com grandes e impressionantes ilustrações em prata, contribuiu muito para o fascínio associado ao estilo egípcio.
Esfinges, obeliscos, pirâmides e “quartos egípcios” começaram a aparecer por todos os lados na Europa.
“Gostamos de pensar que nosso quarto egípcio é único. Aqui, a restauração produziu resultados surpreendentes”, disse Telli.
O quarto egípcio está aberto a visitação sob solicitação prévia.

Arqueólogos amadores são convidados para decifrar papiros


 
Papiro
Foto: Papiro de Oxirrinco 5072 (século 3 d.C.), Evangelho não-canônico. Cortesia da Sociedade de Exploração do Egito e Imaging Papyri Project, Oxford. Todos os direitos reservados.
Quinta, 28 de julho de 2011
Centenas de milhares de fragmentos de papiros, recuperados há 100 anos em um aterro sanitário seco na antiga cidade egípcia de Oxirrinco, atual El-Bahnasa, foram disponibilizados online na tentativa de obter traduções cooperativas.
Escritos em grego durante um período em que o Egito estava sob o domínio de uma classe de colonizadores gregos (e depois romanos), os textos formam uma grande variedade de documentos, de obras literárias a cartas, receitas e até boatos.
Uma janela fascinante para a vida no mundo antigo, as imagens representam uma tarefa monumental: embora vestígios dos pergaminhos tenham sido descobertos em 1896, estudiosos só conseguiram decifrar 2% do texto até agora. Muitos papiros não são lidos há mais de mil anos.
"Pensamos que estava na hora de pedir ajuda", afirmou o líder do projeto, Chris Lintott, do Departamento de Física da Universidade de Oxford.
Trabalhando em colaboração com papirologistas da universidade e a Sociedade de Exploração do Egito, a equipe de Lintott lançou o website Ancient Lives (Vidas Antigas), onde arqueólogos amadores podem ajudar a catalogar e traduzir os antigos manuscritos.
Embora a frase “isso parece grego” pareça se ajustar perfeitamente ao projeto, não é necessário ter conhecer a língua.
Os visitantes do site Ancient Lives são expostos a uma imagem de um fragmento. Podem então clicar em uma letra na imagem e então no que acreditam ser a letra grega correspondente em um teclado, localizado abaixo.
Como fragmentos não-traduzidos aparecem no website, ferramentas de reconhecimento de caracteres ajudarão as pessoas a associar caracteres a símbolos. Uma vez que os caracteres tenham sido transliterados, o computador verifica se o manuscrito foi traduzido por um acadêmico ou não. Se não, é então enviado aos estudiosos para novas análises.
Os pesquisadores já descobriram fragmentos de um evangelho anterior desconhecido, dado como “perdido”, que descreve Jesus exorcizando demônios; novas cartas do filósofo Epicuro; vários diálogos de Platão; um papiro do filósofo e poeta Empédocles sobre a anatomia do olho; a peça perdida de Eurípides, Melanippe, o Sábio; Misoumenos, obra do escritor de comédias grego Menander, e várias peças de Aristófanes.
Entre papéis privados e pessoais, descobrimos por meio desses papiros que Aurelius, o salsicheiro, havia pedido um empréstimo de 9.000 denares de prata, talvez para expandir seu negócio. Em outra carta, escrita em 127 d.C., uma avó chamada Sarapias pede que sua filha volte para que possa estar presente no nascimento do neto.
Desde o lançamento do website, na terça, voluntários já transcreveram mais de 100 mil caracteres, segundo o Ancient Lives.
"Esse esforço está impregnado de um espírito de colaboração”, afirmou o diretor do projeto, Dirk Obbink, palestrante de Papirologia e Literatura Grega da Universidade de Oxford.
"Sozinho, nenhum par de olhos pode ver e ler tudo. De cientistas a professores, de alunos a amantes da antiguidade, todos têm algo a contribuir – e a ganhar”, disse Obbink.