A busca pela primeira vacina contra a malária ganhou novo alento com a divulgação dos resultados preliminares de um estudo clínico, que mostram uma redução de quase 50% do risco de desenvolver a doença em crianças africanas.
A vacina, conhecida como RTS,S, é fabricada pelo laboratóriofarmacêutico britânico GlaxoSmithKline, na Bélgica, e é o primeira do gênero que bloqueia a ação de um parasita, em vez de bactérias e vírus.
Especialistas saudaram a terceira fase dos testes, em andamento em 11 locais da África subsaariana, como um passo promissor na direção da erradicação da doença, que é transmitida por mosquitos e mata quase 800 mil pessoas por ano, a maioria crianças.
Os resultados foram publicados no site do New England Journal of Medicine e anunciados durante o Fórum da Malária, organizado pela Fundação Bill & Melinda Gates em Seattle, Washington.
O criador da fundação e magnata da Microsoft, Bill Gates, descreveu a descoberta como um “grande marco” da luta contra a malária, com o “potencial de proteger milhões de crianças e salvar milhares de vidas”.
Crianças com idades entre cinco e 17 meses que receberam três doses da vacina apresentaram um risco 56% menor de desenvolver a malária clínica, que causa febre alta e calafrios, concluiu o estudo.
Quanto à malária severa – o estágio da doença que pode ser fatal e afeta o sangue, o cérebro e os rins – a redução do risco entre as crianças que tomaram a vacina foi de 47%.
"Isso é fantástico, já que nunca houve uma vacina bem-sucedida contra um parasita humano”, comemorou Tsiri Agbenyega, que chefia os testes clínicos com a RTS,S e lidera pesquisas sobre malária no Hospital-Escola Komfo-Anokye em Kumasi, Gana.
"Embora esses resultados sejam encorajadores, ainda temos um longo caminho a percorrer”, pontuou.
As análises foram realizadas com dados de 6.000 crianças, obtidos ao longo de um acompanhamento de 12 meses após a imunização.
No entanto, os pesquisadores precisam coletar mais informações sobre bebês entre 6 e 12 semanas para avaliar melhor o funcionamento da vacina neste grupo particularmente vulnerável, dizem os especialistas. Esses resultados complementares devem ser divulgados no ano que vem.
Segundo a Organização Mundial, a malária matou 781 mil pessoas em 2009. Cerca de 90% dos óbitos ocorreram na África, sendo que 92% eramcrianças com menos de cinco anos.
Regina Rabinovich, diretora do programa de saúde global da fundação, foi cautelosa ao responder se a Fundação Gates apoiaria uma vacina com uma taxa de sucesso de apenas 50 por cento.
"Essa é uma questão essencial. Em última análise, queremos entender a eficácia, duração e segurança da vacina”, afirmou, dizendo estar “entusiasmada” sobre os resultados obtidos até agora e ansiosa para obter novos dados.
Mais de 15 mil crianças em sete países africanos participam dos testes clínicos, que devem continuar por mais dois anos, cobrindo áreas onde já existem outras intervenções contra a malária, como mosquiteiros e pulverizações.
A RTS,S foi criada em 1987 em um laboratório da GlaxoSmithKline na Bélgica. Os testes iniciais ocorreram na Europa e nos Estados Unidos em 1992, e o primeiro estudo africano foi conduzido em Gâmbia, em 1998.
Hoje, os testes são realizados em Burkina Faso, Gabão, Gana, Quênia, Maláui, Moçambique e Tanzânia e incluem 15.460 crianças, “o maior teste clínico de uma vacina contra a malária até o momento”, segundo a GSK.
A vacina ativa o sistema imunológico para defender o organismo contra oPlasmodium falciparum, o mais mortal parasita da malária.
Os efeitos colaterais incluem febre e inchaço no local da injeção, “típicos de outras vacinações infantis”, afirmou Agbenyega.
Ainda há muitas questões em aberto, como a durabilidade e o custo da vacina, segundo Seth Berkley, CEO da Aliança Global para Vacinas e Imunização (GAVI, na sigla em inglês).
A malária é “um problema enorme entre os mais pobres, e a busca por uma vacina é muito antiga”, disse à AFP. "Por isso, obter algum êxito, mesmo que não seja perfeito, já é uma grande coisa”.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos consideraram os resultados “um avanço promissor no desenvolvimento de uma vacina contra a malária para as crianças africanas”.
O CEO da GlaxoSmithKline, Adrew Witty, afirmou que a empresa já investiu US$ 300 milhões no desenvolvimento da vacina e pretende produzi-la a custos baixos e sem fins lucrativos, embora tenha afirmado anteriormente que é cedo demais para fixar um preço.
"Temos esperança de fornecer essa vacina às crianças africanas em 2015", prevê Witty.