terça-feira, 20 de dezembro de 2011

OS REIS E SUAS NACÕES



Hoje fala-se em patriotismo, nacionalismo, soberania nacional etc. Na Idade Média isso não acontecia. Este texto, além de explicar por que isso não acontecia na Idade Média, mostra também quando e por que essas palavras começaram a surgir.
Aí vem o rei!
Muita gente pensa hoje que as crianças nascem com o instinto de patriotismo nacional. Evidentemente isso não é verdade. O patriotismo nacional vem em grande parte de se ler e ouvir falar constantemente nos grandes feitos dos heróis nacio­nais. As crianças do século X o encontravam em seus livros didáticos desenhos de navios de seu país afundando os de um país inimigo. Por uma razão muito simples: não havia países, tal como os conhecemos hoje.
Mas em fins da Idade Média no decorrer do século XV


 tudo isso se modificou. Surgiram nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu aparecimento e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a considerar-se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como da Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou ao senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação.
Como ocorreu essa evolução do Estado nacional? Foram muitas as razões - políticas, religiosas, sociais, econômicas. Livros inteiros foram escritos sobre esse interessante assunto. Temos espaço para examinar apenas algumas causas - principal­ mente econômicas.
A asceno da classe média é um dos fatos importantes desse período que vai do século X ao século XV. Modificações nas formas de vida provocaram o crescimento dessa nova classe e seu advento trouxe novas modificações no modo de vida da sociedade. As antigas instituições, que haviam servido a uma fll1alidade na velha ordem, entraram em decancia; novas ins­tituições surgiram, tomando seu lugar. É uma lei da História.
O mais rico é quem mais se preocupa com o número de guardas que há em seu quarteirão. Os que se utilizam das estradas para enviar suas mercadorias ou dinheiro a outros lugares são os que mais reclamam proteção contra assaltos e isenção de taxas de pedágio. A confusão e a inseguraa não são boas para os negócios. A classe média queria ordem e segurança.
Para quem se poderia voltar1 Quem, na organização feudal, lhe podia garantir a ordem e a segurança? No passado, a proteção era proporcionada pela nobreza, pelos senhores feudais. Mas fora contra as extorsões desses mesmos senhores que as cidades haviam lutado. Eram os exércitos feudais que pilhavam, destruíam e roubavam. Os soldados dos nobres, não recebendo pagamento regular pelos seus serviços, saqueavam cidades e rouba­ vam tudo o que podiam levar. As lutas entre os senhores guerreiros freqüentemente representavam a desgraça para a população local, qualquer que fosse o vencedor. Era a presença de senhores diferentes em diferentes lugares ao longo das estradas comerciais que tornava os negócios tão dificeis. Necessitava-se de uma auto­ridade central, um Estado nacional. Um poder supremo que pu­ desse colocar em ordem o caos feudal. Os velhos senhores já não podiam preencher sua função social. Sua época passara. Era che­ gado o momento oportuno para um poder central forte.
Na Idade Média, a autoridade do rei existia teoricamente, mas de fato era fraca. Os grandes barões feudais eram praticamente independentes. Seu poderio tinha de ser controlado, e realmente o foi.
Os passos dados pela autoridade central para tornar-se capaz de exercer o poder nacional foram lentos e irregulares. Não se assemelharam a uma escada, com um degrau sobre outro levando firmemente uma direção definida, mas sim uma estrada acidentada, com muitas idas e vindas. Não levou um, dois, ou cinqüenta ou cem anos. Levou séculos - mas, final­ mente, tornou-se realidade.
Os senhores começaram a enfraquecer por terem perdi­ do grande parte de seus bens em terras e servos. Sua foa havia sido desafiada e parcialmente controlada pelas cidades. E em certas regiões, em sua constante guerra entre si, estavam realizando o extermínio mútuo.
O rei fora um aliado fone das cidades na luta contra os senhores. Tudo o que reduzisse a força dos barões fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda, os cidadãos estavam prontos a auxiliá-lo com empréstimos de dinheiro. Isso era importante, porque com o dinheiro o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor.
(HUBERMAN, L. História da riqueza do homem.Rio de Janeiro, Zahal, 1983, p. 79-81)

Questões
1.      Por que as criaas da Idade Média não tinham noção do que era patriotismo?
2.      Quando e como tudo se modificou?
3.      Que tipos de razões inflram para que houvesse essa modificação?
4.      Cite um dos fatos importantes do período que vai do século X ao século XV.
5.      Como foram os passos dados pela autoridade central para tornar-se capaz de exercer o poder nacional?
6.      Por que os senhores feudais começaram a se enfraquecer?
7.      Qual Foi o papel do rei e dos burgueses no surgimento das nações?

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