Hoje fala-se em patriotismo, nacionalismo, soberania nacional etc. Na
Idade Média isso não acontecia. Este texto, além de explicar por que isso não acontecia na
Idade
Média, mostra também quando e por que essas palavras começaram a
surgir.
Aí vem o rei!
Muita gente pensa hoje que as crianças nascem com o instinto de patriotismo nacional. Evidentemente isso não é verdade. O patriotismo nacional vem em grande parte de se ler e ouvir falar constantemente nos grandes feitos dos heróis nacionais. As crianças do século X não encontravam em seus livros didáticos desenhos de navios de seu país afundando os de um país inimigo. Por uma razão muito simples: não havia países, tal como os conhecemos hoje.
Mas em fins da Idade Média no decorrer do século XV
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tudo isso se modificou. Surgiram nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu aparecimento e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a considerar-se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como da Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou ao senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação.
Como ocorreu essa evolução do Estado nacional? Foram muitas as razões - políticas, religiosas, sociais, econômicas. Livros inteiros foram escritos sobre esse interessante assunto. Temos espaço para examinar apenas algumas causas - principal mente econômicas.
A ascensão da classe média é um dos fatos importantes desse período que vai do século X ao século XV. Modificações nas formas de vida provocaram o crescimento dessa nova classe e seu advento trouxe novas modificações no modo de vida da sociedade. As antigas instituições, que haviam servido a uma fll1alidade na velha ordem, entraram em decadência; novas instituições surgiram, tomando seu lugar. É uma lei da História.
O mais rico é quem mais se preocupa com o número de guardas que há em seu quarteirão. Os que se utilizam das estradas para enviar suas mercadorias ou dinheiro a outros lugares são os que mais reclamam proteção contra assaltos e isenção de taxas de pedágio. A confusão e a insegurança não são boas para os negócios. A classe média queria ordem e segurança.
Para quem se poderia voltar1 Quem, na organização feudal, lhe podia garantir a ordem e a segurança? No passado, a proteção era proporcionada pela nobreza, pelos senhores feudais. Mas fora contra as extorsões desses mesmos senhores que as cidades haviam lutado. Eram os exércitos feudais que pilhavam, destruíam e roubavam. Os soldados dos nobres, não recebendo pagamento regular pelos seus serviços, saqueavam cidades e rouba vam tudo o que podiam levar. As lutas entre os senhores guerreiros freqüentemente representavam a desgraça para a população local, qualquer que fosse o vencedor. Era a presença de senhores diferentes em diferentes lugares ao longo das estradas comerciais que tornava os negócios tão dificeis. Necessitava-se de uma autoridade central, um Estado nacional. Um poder supremo que pu desse colocar em ordem o caos feudal. Os velhos senhores já não podiam preencher sua função social. Sua época passara. Era che gado o momento oportuno para um poder central forte.
Na Idade Média, a autoridade do rei existia teoricamente, mas de fato era fraca. Os grandes barões feudais eram praticamente
independentes. Seu poderio tinha de ser controlado, e realmente o foi.
Os passos dados pela autoridade central para tornar-se capaz de exercer o poder nacional foram lentos e irregulares. Não se assemelharam a uma escada, com um degrau sobre outro levando firmemente uma direção definida, mas sim uma estrada acidentada, com muitas idas e vindas. Não levou um, dois, ou cinqüenta ou cem anos. Levou séculos - mas, final mente, tornou-se realidade.
Os senhores começaram a enfraquecer por terem perdi do grande parte de seus bens em terras e servos. Sua força havia sido desafiada e parcialmente controlada pelas cidades. E em certas regiões, em sua constante guerra entre si, estavam realizando o extermínio mútuo.
O rei fora um aliado fone das cidades na luta contra os senhores. Tudo o que reduzisse a força dos barões fortalecia o poder real. Em recompensa pela sua ajuda, os cidadãos estavam prontos a auxiliá-lo com empréstimos de dinheiro. Isso era importante, porque com o dinheiro o rei podia dispensar a ajuda militar de seus vassalos. Podia contratar e pagar um exército pronto, sempre a seu serviço, sem depender da lealdade de um senhor.
(HUBERMAN, L. História da riqueza do homem.Rio de Janeiro, Zahal, 1983, p. 79-81)
Questões
1.
Por que as crianças da Idade Média não tinham noção do que era patriotismo?
2.
Quando e como tudo se modificou?
3.
Que tipos de razões influíram para que houvesse essa modificação?
4.
Cite um dos fatos importantes do período que vai do século X ao século XV.
5.
Como foram os passos dados pela autoridade central para tornar-se capaz de exercer o poder nacional?
6.
Por que os senhores feudais começaram a se enfraquecer?
7.
Qual Foi o papel do rei e dos burgueses no surgimento das nações?
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