Foto: Lionel Cironneau / AP.
Por Armando Dupont
Por estética ou por motivo de saúde, milhares de mulheres em todo o mundo estão se submetendo a cirurgias para colocar implantes mamários. Algumas admitem que enfrentam o risco de uma cirurgia por vaidade, outras garantem que só querem melhorar a auto-estima. Os cirurgiões plásticos também têm pacientes que se submetem a cirurgias de reconstrução do seio depois de acidentes ou de mastectomias, frequentemente ligadas ao câncer de mama. Este tipo de cirurgia estética ou plástica é realizada há mais de meio século, recordam os especialistas, que defendem esta intervenção cirúrgica por considerá-la bastante segura.
No entanto, um escândalo recente revelou os problemas inesperados que algumas pacientes podem enfrentar, quando o governo francês recomendou a remoção de todos os implantes da marca PIP em dezembro.
O que são implantes mamários?
Implantes mamários são próteses artificiais inseridas no corpo para aumentar o tamanho dos seios ou reconstrui-los.
Segundo especialistas, a definição mais simples é uma bolsa de diferentes tamanhos, dependendo da preferência ou conveniência da paciente, repleta de uma substância com consistência que varia de líquida a gelatinosa. Em geral, trata-se de uma solução salina ou de silicone, que também pode vir em forma de gel.
Por meio da introdução de um volume para aumentar artificialmente o tamanho do seio, o implante também possibilita a modificação da forma da mama.
Felipe Martínez, cirurgião-plástico da Sociedade Colombiana de Cirurgia Plástica, explicou que a técnica existe há 45 anos. “O implante é introduzido no corpo por meio de uma incisão, que pode ser realizada na auréola do mamilo, na axila ou na base do seio, em que o peso da mama pode ou não deixar uma dobra, uma região conhecida como ‘ sulco submamário’”, detalhou Martínez.
Resumo de um escândalo mundial
A Poly Implants Prothèse (PIP) fabricou próteses de silicone durante quase 20 anos, até ser fechada pelo governo francês em 2010. A PIP destinava grande parte de sua produção à exportação, sobretudo para países da América Latina, uma região que o aumento crescente do poder aquisitivo (e em alguns casos, do culto à beleza e aos seios grandes) transformou em um atraente mercado para procedimentos cirúrgicos estéticos.
Milhares de mulheres – segundo estimativas, cerca de 400 mil – haviam colocado implantes mamários desta marca até 2010, quando a vigilância sanitária francesa constatou que a PIP utilizava silicone industrial, e não o habitual silicone de grau médico, para rechear suas próteses.
Mas o escândalo estourou em dezembro de 2011, quando as autoridades de França recomendaram a cerca de 30 mil mulheres a extração dos implantes da PIP, depois de constatar que estas próteses se rompiam com mais frequência.
A partir deste momento, milhares de mulheres em todo o mundo descobriram que seus implantes não continham o material adequado e autorizado para utilização médica, além de apresentarem um risco maior de ruptura.
As consequências do problema
“Obviamente, isso gerou muito pânico”, reconheceu o doutor Felipe Martínez em entrevista ao TuDiscovery. “São milhares de pacientes porque as PIP eram as próteses mais vendidas da América Latina. Todas elas estão em pânico. Ligam para as amigas às três da manhã, não dormem, têm pesadelos. Muitas nem sequer têm essa marca, mas quando lhes contamos isso, essas pacientes ficaram aliviadas. (…) Outras estão em perfeito estado e podem ser retiradas depois, não é uma urgência”, explica o especialista.
“Existe o risco de a prótese se romper, mas não o de provocar câncer. Já foi provado que o silicone, mesmo o industrial, não produz câncer. Até mesmo os silicones mais antigos, implantados há 40 anos, não provocam a doença. Essa discussão já acabou há muitos anos. E ainda tem gente que acredita que as próteses PIP dão câncer. Não, esse risco não existe”, enfatizou.
“Em geral, como são próteses implantadas há vários anos, em caso de ruptura, o corpo cria uma membrana ao redor da prótese, que se chama cápsula. Se ela se romper, o normal é que este gel coesivo não vaze para o corpo, mas fique dentro da cápsula que envolve a prótese. Então, não é uma urgência imediata. As pacientes precisam ter calma, não precisam sair às três da manhã para trocar o implante. (…) Podem demorar meses”, resumiu.
PIP e a lei
Desde o escândalo, países como a Venezuela determinaram que o sistema público de saúde assuma o custo pela retirada dos implantes das pacientes que desejarem fazê-lo. No Brasil, o SUS só pagará pelas cirurgias se houver ruptura do implante. A França foi além e garantiu que pagará pela substituição de todas as próteses.
As decorrências legais do escândalo são múltiplas. A rede CNN divulgou que cerca de duas mil mulheres na América Latina anunciaram ações judiciais.
Leia o depoimento de Patrícia, uma das vítimas das próteses de silicone adulteradas.
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